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27.1.06

Os porquês do resultado elitoral

Os porquês do resultado eleitoral
No rescaldo da eleição presidencial, surgem por todo lado as mais variadas explicações para os resultados eleitorais.
Pessoas diversas tentam explicar a que se deveu a derrota de Mário Soares, mais a derrota deste e daquele, bem como a vitória de Cavaco Silva.
Por exemplo, num programa de Tv alguém referiu que Soares terá sido derrotado porque tem uma concepção da direita desfasada da realidade actual, que a direita que ele combateu nos tempos da ditadura não é mais a direita de hoje, que Cavaco Silva é um filho do 25 de Abril e blá, blá, blá...
Não há dúvida que explicações destas são autênticas pérolas de raciocínio, capazes de figurar ao lado das mais brilhantes construções filosóficas de que há registo. Só há um problema, é que independentemente de teorias assim poderem estar certas, não vejo o Zé povinho a orientar o seu voto baseado em raciocínios tão complexos. Os resultados eleitorais terão portanto de possuir uma explicação tão simples, como simples é a maioria dos eleitores que geram esses mesmo resultados.
As causas andarão perto de coisas como, por exemplo:
  • A idade avançada de Soares.
  • A forma como se procedeu à escolha do candidato oficial do PS.
  • O facto de Soares já ter sido presidente duas vezes e ter prometido que não voltaria à política.
  • A lembrança de Cavaco Silva como tendo sido um 1º ministro competente e capaz de ajudar a vencer a actual crise económica.
  • A forma cuidada como Cavaco Silva se preparou para esta eleição, falando pouco e fazendo uma boa gestão do tempo.
  • O facto de não haver mais candidatos de direita.
  • A tendência para gerar uma maioria presidencial de sinal contrário à maioria parlamentar do momento.
  • A simpatia de Jerónimo de Sousa.
  • O discurso repetitivo de Louçã.
  • A impopularidade do governo e Mário Soares ser o candidato oficial da maioria.
  • Uma aversão crescente aos partidos políticos e a candidatura autónoma de Manuel Alegre.
  • O ser-se de esquerda e preferir Manuel Alegre a Mário Soares numa eventual 2ª volta.
  • Um número elevado de eleitores de esquerda não comunista que não se identificam com a direcção actual do PS.
  • A capacidade (ou incapacidade) de mobilização por parte das diferentes candidaturas.

Estas são algumas das pistas (simples) que poderão explicar as eleições de Domingo e as reacções do povo. Tudo o mais é filosofia.

23.1.06

Mais uma derrota de Sócrates

Escrito neste blog a 14 de Novembro de 2005:

(...) preparemo-nos para escutar José Sócrates, na noite da derrota presidencial que se avizinha, fugir às suas responsabilidades políticas enquanto secretário geral do PS, afirmando que foi Mário Soares e não ele, nem o governo, a ser avaliado nas eleições presidenciais. Porém, a grande responsabilidade da escolha de Mário Soares como candidato presidencial é de Sócrates e a sua mais do que provável derrota eleitoral também. (...)

Não retiramos uma única vírgula ao que então, escrevemos. Mas que mais conclusões tirar do actual momento político ?

Em primeiro lugar, um NÃO do povo português a esta forma de estar na política que consiste em prometer uma coisa e depois fazer exactamente o contrário.
Por exemplo, prometer o não aumento dos impostos e depois subir o IVA para 21%. Tal como alguém prometer que não voltaria a ser candidato à presidência da República e depois, fazê-lo. Ou afirmar que apoiaria Manuel Alegre, caso este fosse candidato, e depois concorrer contra ele.
Daqui se conclui que honrar a palavra dada é, ainda, um valor sagrado para muitos portugueses e que a derrota verificada nas recentes autárquicas e nestas presidenciais só surpreenderá quem não entender o valor da honestidade intelectual, do imperativo de cumprir o que se promete e de se falar verdade aos portugueses.
É também um NÃO à forma pouco clara como se processou a escolha do candidato oficial do PS; um NÂO à arrogância de se pedir a desistência dos restantes candidatos da esquerda quando, na verdade, o candidato do PS não tinha chances de sucesso.

Da noite eleitoral, ressaltam as declarações a quente de Ana Gomes (está a tornar-se uma espécie de Alberto João Jardim do Largo do Rato ) e o momento infeliz em que Sócrates resolveu prestar declarações aos jornalistas, justamente quando Manuel Alegre discursava, provocando o fim da transmição em directo das televisões a partir da sede de Alegre. Este tipo de deselegância, hão-de julgar alguns que as pessoas são burras e não reparam, mas se calhar até notam e acaba por ser um tiro no pé.

Quanto ao futuro, Sócrates mostra-se tranquilo mas sabemos que os dias vindouros não serão assim. O secretário geral do PS tem uma pedra no sapato chamada Manuel Alegre.
Tentará ajustar contas e desfazer-se de Alegre, ou vai conviver com ele no seio do partido ?
Se Alegre sair, fundará um novo partido ? Quantos deputados do PS levará consigo ?
Se Alegre ficar, voltará a concorrer ao cargo de secretário geral ?
Qual o papel dos soaristas nesta luta interna dentro do PS ?
E Cavaco ? Será que vai realmente colaborar com o governo ou andará atento às sondagens acerca da popularidade do governo e assim que estas forem favoráveis ao PSD, fará a Sócrates o que Sampaio fez a Santana ?
Uma previsão parece certa: de uma forma ou de outra, Sócrates não vai chegar ao fim da legislatura !